Juliet Marie Kietzmann

I Reis 13

Por ordem do Senhor um homem de Deus foi de Judá a Betel, quando Jeroboão estava em pé junto ao altar para queimar incenso.

Ele clamou contra o altar, segundo a ordem do Senhor:

- Ó altar, ó altar! Assim diz o Senhor: ‘Um filho nascerá na família de Davi e se chamará Josias. Sobre você ele sacrificará os sacerdotes dos altares idólatras que agora queimam incenso aqui, e ossos humanos serão queimados sobre você’ .

Naquele mesmo dia o homem de Deus deu um sinal:

- Este é o sinal que o Senhor declarou: ‘O altar se fenderá, e as cinzas que estão sobre ele se derramarão’.

Quando o rei Jeroboão ouviu o que o homem de Deus proclamava contra o altar de Betel, apontou para ele e ordenou:

- Prendam-no!

Mas o braço que ele tinha estendido ficou paralisado, e não voltava ao normal. Além disso, o altar se fendeu, e as suas cinzas se derramaram, conforme o sinal dado pelo homem de Deus por ordem do Senhor.

Então o rei disse ao homem de Deus:

- Interceda ao Senhor, o seu Deus, e ore por mim para que meu braço se recupere.

O homem de Deus intercedeu ao Senhor, e o braço do rei recuperou-se e voltou ao normal. O rei disse ao homem de Deus:

- Venha à minha casa e coma algo, e eu o recompensarei.

Mas o homem de Deus respondeu ao rei:

- Mesmo que me desse a metade dos seus bens, eu não iria com você nem comeria ou beberia nada neste lugar. Pois recebi estas ordens pela palavra do Senhor: ‘Não coma pão nem beba água, nem volte pelo mesmo caminho por onde foi’ .

Por isso, quando ele voltou, não foi pelo caminho por onde tinha vindo a Betel.

Ora, havia um certo profeta, já idoso, que morava em Betel. Seus filhos lhe contaram tudo o que o homem de Deus havia feito naquele dia e também o que ele dissera ao rei.

O pai lhes perguntou:

- Por qual caminho ele foi?

E os seus filhos lhe mostraram por onde tinha ido o homem de Deus que viera de Judá.

Então disse aos filhos:

- Selem o jumento para mim.

E, depois de selarem o jumento, ele montou e cavalgou à procura do homem de Deus, até que o encontrou sentado embaixo da Grande Árvore. E lhe perguntou:

- Você é o homem de Deus que veio de Judá?

- Sou - respondeu.

Então o profeta lhe disse:

- Venha à minha casa comer alguma coisa.

O homem de Deus disse:

- Não posso ir com você nem posso comer pão ou beber água neste lugar. A palavra do Senhor deu-me esta ordem: ‘Não coma pão nem beba água lá, nem volte pelo mesmo caminho por onde você foi’ .

O profeta idoso respondeu:

- Eu também sou profeta como você. E um anjo me disse por ordem do Senhor: ‘Faça-o voltar com você para a sua casa para que coma pão e beba água’ . (Mas ele estava mentindo.)

E o homem de Deus voltou com ele e foi comer e beber em sua casa.

Enquanto ainda estavam sentados à mesa, a palavra do Senhor veio ao profeta idoso que o havia feito voltar e ele bradou ao homem de Deus que tinha vindo de Judá:

- Assim diz o Senhor: ‘Você desafiou a palavra do Senhor e não obedeceu à ordem que o Senhor, o seu Deus, deu a você. Você voltou e comeu pão e bebeu água no lugar onde ele falou que não comesse nem bebesse. Por isso o seu corpo não será sepultado no túmulo dos seus antepassados’.

Quando o homem de Deus acabou de comer e beber, o profeta idoso selou seu jumento para ele. No caminho, um leão o atacou e o matou, e o seu corpo ficou estendido no chão, ao lado do leão e do jumento. Algumas pessoas que passaram viram o cadáver estendido ali, com o leão ao lado, e foram dar a notícia na cidade onde o profeta idoso vivia. Quando este soube disso, exclamou:

- É o homem de Deus que desafiou a palavra do Senhor! O Senhor o entregou ao leão, que o feriu e o matou, conforme a palavra do Senhor o tinha advertido.

O profeta disse aos seus filhos:

- Selem o jumento para mim - e eles o fizeram.

Ele foi e encontrou o cadáver caído no caminho, com o jumento e o leão ao seu lado. O leão não tinha comido o corpo nem ferido o jumento.

O profeta apanhou o corpo do homem de Deus, colocou-o sobre o jumento e o levou de volta para Betel, a fim de chorar por ele e sepultá-lo. Ele o pôs no seu próprio túmulo, e se lamentaram por ele, cada um exclamando:

- Ah, meu irmão!

Depois de sepultá-lo, disse aos seus filhos:

- Quando eu morrer, enterrem-me no túmulo onde está sepultado o homem de Deus; ponham os meus ossos ao lado dos ossos dele. Pois a mensagem que declarou por ordem do Senhor contra o altar de Betel e contra todos os altares idólatras das cidades de Samaria certamente se cumprirá.

Mesmo depois disso Jeroboão não mudou o seu mau procedimento, mas continuou a nomear dentre o povo sacerdotes para os altares idólatras. Ele consagrava para esses altares todo aquele que quisesse tornar-se sacerdote.

Esse foi o pecado da família de Jeroboão, que levou à sua queda e à sua eliminação da face da terra.

(Nova Versão Internacional)

Um leão o encontrou no caminho, e o matou.

Sobre o profeta que foi enviado com uma mensagem para um altar. Spoiler: o castigo não foi ser morto.


I Reis 13 conta a história do profeta que foi enviado por Deus para dar uma mensagem para o povo do reino de Israel. Além da mensagem, Deus lhe deu instruções adicionais: não comer nem beber lá, e retornar por um caminho diferente.

O profeta morava no reino de Judá, e a mensagem era para o reino vizinho, de Israel. A distância era de cerca de 16 kilometros. Andando a uma velocidade de 5 kilometros/hora, era uma viagem de cerca de 3 horas (6 horas, ida e volta).

Então ele vai, profetiza, desobedece e é morto por um leão.

A conclusão que se costuma tirar deste texto é aquela dita pelo outro profeta, que o texto não diz o nome, apenas o chama de 'velho profeta': 'o leão o matou, segundo a palavra que o Senhor havia dito'.

Note, no entanto, que essa conclusão é a palavra do velho profeta. 'O velho profeta disse' não significa 'Deus disse', significa 'o velho profeta disse'. Para ser palavra de Deus, a frase deve ter sido literalmente falada por Deus. Por exemplo: 'Deus disse ao profeta'; ou 'Assim diz o Senhor'.

O que Deus disse ao profeta que desobedeceu foi: você desobedeceu, por isso seu corpo não será sepultado com seus antepassados.

"Assim diz o Senhor: ‘Você desafiou a palavra do Senhor e não obedeceu à ordem que o Senhor, o seu Deus, lhe deu. Você voltou e comeu pão e bebeu água no lugar onde ele lhe falou que não comesse nem bebesse. Por isso o seu corpo não será sepultado no túmulo dos seus antepassados’".

O profeta poderia morrer onde fosse, que não seria enterrado na sepultura da família.

A punição não era morrer. Para início de conversa, a morte é salário, é direito trabalhista, não é punição.

Uma conclusão que não segue a linha de morte como punição, é que a ordem sobre como ir e vir seria justamente para não ser pego pelo leão. Iria haver leão à solta, e para evitá-lo, eis a ordem. A morte, então, teria sido consequência do equivalente a desobedecer leis de trânsito: não fure o sinal vermelho para não ter acidente > desobedeceu o sinal, portanto teve acidente.

O problema é que não há menção de leões à solta. Todos vão e vem pelos caminhos sem nenhuma menção de qualquer precaução contra algum leão solto. O leão foi perigo exclusivo do profeta desobediente.

Além disso, o velho profeta imediatamente conclui que a morte é ato sobrenatural. Antes mesmo de ver o corpo, ele identifica quem foi o morto que encontraram na estrada pela maneira como ele morreu.

'Quando ele ouviu o que tinha acontecido, disse: ‘É o homem de Deus que desobedeceu à ordem do Senhor!’'.

E Deus não precisa dar instruções para despistar leão.

Por que então o profeta morreu?

Quando o profeta chega e fala o que tem que falar, ninguém acredita que a mensagem é de Deus.

Quando o rei o ouve, manda prendê-lo. Quando o velho o ouve, prepara mentira.

O rei precisa ser castigado pela ameaça e ver parte da profecia se cumprir para reconhecer que o profeta é de Deus, embora não acredite na profecia em si.

O primeiro registro de que alguém finalmente entende que a mensagem é de verdade vem apenas após o enterro do profeta desobediente.

"Depois de enterrá-lo, (o velho profeta) disse aos seus filhos: ‘Quando eu morrer, quero que me enterrem no túmulo onde está enterrado o homem de Deus. Ponham os meus ossos ao lado dos ossos dele. Porque o que Senhor disse a ele para clamar contra o altar que está em Betel, e a maldição que ele trouxe contra todos os altares idólatras das cidades de Samaria certamente se cumprirá.’"

A desobediência não por engano, distração, azar, mas por rebeldia. Quando ele ouve a mensagem da punição, o que ele faz? Continua comendo e bebendo. Compare com Davi, quando confrontado pelo profeta Natã sobre seu pecado. A primeira coisa que Davi fala é: 'pequei contra o Senhor' (2 Samuel 12:13). E como consequência do pecado de Davi, seu filho morre. Pecar não é saudável.

Por que o velho foi atrás dele?

Ser profeta era algo de extrema distinção. Profetas conviviam com reis, eram consultados, convidados para almoço, faziam parte da corte. O velho não tinha contato com o rei; ele fica sabendo do que aconteceu por relatos.

Ao tê-lo em sua mesa, algo que o rei não conseguiu, o velho poderia ter o prestígio necessário para chamar a atenção do rei.

E para quem não desobedeceria por metade dos bens do rei, o profeta acabou desobedecendo de graça, porque alguém falou em anjos.

Por que ele não podia comer nem beber lá, nem ir e voltar pelo mesmo caminho?

Uma possibilidade é de não comer com pecadores.

Quando o rei convida o profeta para comer, o profeta responde, parafraseando:

Nem que me pague vou com você ou como aqui

(A expressão 'mesmo que me desse a metade dos seus bens', hoje falaríamos 'nem que me pague'.)

É o sentimento de Salmo 1:1, não seguir, sentar ou andar com pecadores; é o sentimento dos fariseus em Mateus 9:11, que questionam por que Jesus come com pecadores; é o sentimento de Paulo, que adverte a igreja de Corinto em I Coríntios 5:11, a 'nem comer uma refeição com esse tipo de pecador'.

Parece que o profeta se sentia superior, 'nem que me pague vou com você'; além de não ser pecador, idólatra, ele era do reino de Judá, cujo rei era descendente de Davi, trazendo a mensagem sobre outro descendente de Davi que destruiria as obras desse rei, desse reino.

Mas ao fazer a mensagem uma questão de superioridade espiritual, ele se torna alvo de alguém que quer ser como ele. Quando o velho o encontra, diz: 'sou profeta como você'.

Mas não foi isso o que Deus disse. O que Ele disse foi:

"Assim diz o Senhor: ‘Você desafiou a palavra do Senhor e não obedeceu à ordem que o Senhor, o seu Deus, deu a você. Você voltou e comeu pão e bebeu água no lugar onde ele falou que não comesse nem bebesse. Por isso o seu corpo não será sepultado no túmulo dos seus antepassados’."

A ordem era para não comer 'no lugar'. Nada fala sobre 'com quem'. E ele desobedeceu não só a ordem de não comer e beber; mas também de não voltar.

Há outras possibilidades.

Uma é quando Isaías profetiza contra o rei da Assíria (2 Reis 19); voltar pelo mesmo caminho significa derrota:

― Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: “Ouvi a sua oração acerca de Senaqueribe, o rei da Assíria. Esta é a palavra que o Senhor falou contra ele: (...)

Sim, contra mim você se enfureceu, e a sua insolência chegou aos meus ouvidos. Por isso, porei o meu gancho no seu nariz e o meu freio na sua boca e o farei voltar pelo caminho por onde veio.

Outra possibilidade encontramos nas instruções que Deus dá a Ezequiel sobre o Novo Templo (Ezequiel 46).

Quando o príncipe entrar, ele o fará pelo pórtico da entrada e sairá pelo mesmo caminho.

Quando o povo da terra vier diante do Senhor nas festas fixas, todo aquele que entrar pela porta Norte para adorá‑lo sairá pela porta Sul, e todo aquele que entrar pela porta Sul sairá pela porta Norte. Ninguém voltará pela porta em que entrou, mas todos sairão pela porta oposta.

Mas por que Deus enviou esse profeta, que morava em outro reino, já que se revelou uma pessoa não fiel, principalmente porque havia um profeta de Deus, fiel, que morava perto dali?

O profeta Aías morava em Siló, que ficava no norte de Betel (Juízes 21:19) e foi quem profetizou que Jeroboão seria rei. Primeiro, Aías já era tão velho que tinha ficado cego; estava na idade de descansar, não de viajar. Segundo, o rei não acreditaria em nada que ele dissesse na sua frente. Quando o filho do rei fica doente, ele fala para a mulher se disfarçar para não ser reconhecida pelo profeta e lhe perguntar sobre o menino. Ela não acreditou no que o profeta falou.

― Quanto a você, levante‑se e volte para a sua casa. Quando você puser os pés na cidade, o menino morrerá. Todo o Israel chorará por ele e o sepultará. Ele é o único da família de Jeroboão que será sepultado, pois é o único da família de Jeroboão em quem o Senhor, o Deus de Israel, encontrou alguma coisa boa.

Então, a mulher de Jeroboão levantou‑se e voltou para Tirza. Assim que entrou em casa, o menino morreu. Eles o sepultaram, e todo o Israel chorou por ele, conforme o Senhor havia predito por meio do profeta Aías, o seu servo.

Se ela tivesse acreditado, não teria voltado para sua cidade.


E se o profeta tivesse respondido ao rei com: 'Não, obrigado'? As instruções não faziam parte da mensagem.

Aquela era viagem de um dia, bate e volta.


2 Reis 23

Até mesmo o altar de Betel, o santuário local edificado por Jeroboão, filho de Nebate, que levou Israel a pecar; até aquele altar e o santuário ele (Josias) os demoliu. Queimou o santuário e o reduziu a pó, queimando também o poste de Aserá.

Quando Josias olhou em volta e viu os túmulos que havia na colina, mandou retirar os ossos dos túmulos e queimá‑los no altar a fim de profaná‑lo, conforme a palavra do Senhor proclamada pelo homem de Deus que havia predito essas coisas.

O rei perguntou:

― Que monumento é este que estou vendo?

Os homens da cidade disseram:

― É o túmulo do homem de Deus que veio de Judá e proclamou estas coisas que tu fizeste ao altar de Betel.

Então, ele disse:

― Deixem‑no em paz. Ninguém toque nos seus ossos. Assim, pouparam os seus ossos, bem como os do profeta que tinha vindo de Samaria.